Reprodução Vs Retorno Econômico

Reprodução Vs Retorno Econômico

No artigo anterior, “Estrutura de Rebanho e Reprodução vs. Retorno Econômico”, discutimos o quanto os indicadores de estrutura de rebanho, as relações de Vacas em Lactação/Total de Vacas (VL/TV) e Vacas em Lactação/Total do Rebanho (VL/TR), têm influência sobre o retorno econômico em propriedades leiteiras. Vimos também que eles sofrem interferência direta dos resultados reprodutivos da fazenda.

Desta vez, iremos avaliar diretamente a relação entre os indicadores reprodutivos e o retorno econômico em fazendas leiteiras, porém sob uma perspectiva diferente.

Para essa análise, utilizamos dados médios de 28 fazendas na Zona da Mata em Minas Gerais, atendidas pelo PDPL (Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira), em um período de 12 meses (setembro de 2019 a agosto de 2020). Os dados econômicos foram todos corrigidos pelo IGP-DI (agosto 2020). Baseado no indicador Taxa de Retorno do Capital Investido sem a terra (TRCST), separamos as 25% fazendas mais rentáveis (TRCST de 24,94%) e as 25% menos rentáveis (TRCST de 1,33%) desse grupo, e comparamos alguns indicadores. Afinal, o que as fazendas com melhores resultados econômicos estão fazendo de diferente das com piores resultados?

Nos gráficos 1 e 2, podemos ver a diferença entre os 2 grupos com relação à estrutura de rebanho.

Gráfico 1 (Vacas em Lactação/Total de Vacas):

 

 

Fonte: PDPL
 

Gráfico 2 (Vacas em Lactação/Total do Rebanho):

 

Em ambos os gráficos podemos notar que as fazendas mais rentáveis trabalham com uma porcentagem maior de vacas em lactação. Isso já era esperado, já que são elas quem geram a maior parte da receita em uma fazenda.

O gráfico 3 ilustra o Período de Serviço (PS), que compreende o intervalo em dias entre o parto e a concepção da vaca.

Gráfico 3 (Período de Serviço):

 

 

Fonte: PDPL

Em outras palavras, quanto maior o PS, mais tempo as vacas demoram para emprenhar, e consequentemente o intervalo de partos será maior.

Nos gráficos 4 e 5, são apresentados o Intervalo Histórico de Partos (IHP) e o Intervalo de Partos Esperado (IPE). Neles, podemos notar que as fazendas inferiores em rentabilidade tiveram pouco mais de 1 mês e meio (47 dias) a mais de intervalo histórico de partos e 30 dias a mais no intervalo de partos esperado.

Gráfico 4 (Intervalo Histórico de partos):

 

 

Fonte: PDPL

 

Gráfico 5 (Intervalo de Partos Esperado):

 

 

Fonte: PDPL
 

Nos gráficos 6, 7 e 8, estão representadas as taxas reprodutivas.

Gráfico 6 (Taxa de Concepção):

 

 

 

Fonte: PDPL

TC pode ser entendida como o número de vacas gestantes divido pelo número de inseminações ou montas naturais já diagnosticadas. Os principais fatores que afetam essa taxa são: qualificação do inseminador, descongelamento correto do sêmen, fertilidade do touro e da vaca, nutrição, estresse calórico, conforto e bem estar animal, dentre outros.

Gráfico 7 (Taxa de Inseminação):

 

 

Fonte: PDPL

TI corresponde ao número de inseminações dividido pelo número de vacas aptas à inseminação em um período de 21 dias. Vacas aptas são as vacas não gestantes e que já passaram do período voluntário de espera (normalmente 45 dias após o parto). Dois principais fatores estão associados com essa taxa:

1 – Anestro: vacas que não estão ciclando, por diversos fatores como escore baixo de condição corporal, deficiências nutricionais, enfermidades metabólicas, problemas pós parto em geral, etc;

2 – Falhas na observação de cios: neste caso, as vacas estão ciclando, apresentando cio, porém muitas delas não estão sendo inseminadas porque, por diversos fatores, não foram identificadas em cio.

Gráfico 8 (Taxa de Prenhez):

 

 

Fonte: PDPL

TP é a mais completa e importante dentre as taxas reprodutivas, já que ela leva em consideração todos os fatores anteriormente citados. Para o seu cálculo, basta multiplicar a TC pela TI. A interpretação dessa taxa é a velocidade com que minhas vacas estão emprenhando. Em um exemplo clássico de TC e TI de 50%, teremos uma TP de 25%, ou seja, a cada 21 dias, 25% das minhas vacas aptas estão ficando gestantes.

No resultado da análise acima, houve uma diferença um pouco maior de 6 pontos percentuais, isso significa, em um rebanho de 50 vacas aptas, que a cada 21 dias houve uma diferença de 3 vacas gestantes a mais no grupo das fazendas mais rentáveis, ou 4 vacas por mês! À primeira impressão podem parecer números modestos, mas em um rebanho deste tamanho, se conseguirmos 4 partos a mais todo mês, no final o resultado não teria como ser diferente, maior retorno econômico!

A diferença na Margem Bruta unitária (renda bruta da atividade menos custo operacional efetivo) entre esses 2 grupos foi de R$ 0,35 / L. Em uma fazenda com produção de 1.000L / dia, daria uma diferença de R$ 10.500 na receita mensal da fazenda. Quanto custa investir mais na reprodução? Qual é o preço de uma IATF? Quanto custaria uma visita mensal de um nutricionista para ajustar a dieta das vacas e/ou uma visita a mais de um veterinário?

pecuária leiteira é uma atividade muito complexa e exige que todos os setores dentro de uma propriedade estejam alinhados entre si. Promover um bom manejo reprodutivo não é uma tarefa fácil, aquela ideia antiga de deixar um touro solto com as vacas não é aceitável mais! A consultoria técnica é imprescindível para o sucesso na atividade. Os resultados mostrados nos gráficos acima não são apenas uma coincidência, eles nos mostram que quem está fazendo as coisas certas tecnicamente está colhendo bons resultados econômicos.

 

Fonte: MilkPoint