O que cinco anos de trabalho podem fazer

O que cinco anos de trabalho podem fazer

Estamos em meio a uma avalanche de mudanças no setor. Muito se diz sobre limitações, impossibilidades e dificuldades estruturais (que existem, de fato), mas a principal pergunta que devemos nos fazer é: quantas vezes tentamos?

Como tudo na vida, quando alguém logra êxito em qualquer questão, uma grande maioria passa a especular fatores facilitadores. Fulano comprou um belo carro: “ah, mas com aquele emprego até eu”. Ciclano conquistou uma nova casa: “Com herança até eu”.

O fato é que a esmagadora maioria das pessoas que não conseguiram sucesso nem mesmo tentaram. Enquanto houver um exemplo de sucesso ele pode ser replicado. Essa é a capacidade humana de fazer acontecer e no caso do setor lácteo, em específico, quem não faz está causando danos a quem faz.

Para todo indicador que já formou uma série histórica temos um caminho a analisar. Se não deu certo, alguém não avaliou os números com critério, não planejou as ações ou não as colocou em prática. Se deu certo é possível afinar os ajustes para fazer melhorar ainda mais.

Olhando cinco anos atrás podemos ver várias evoluções em nossas vidas. Pessoas positivas estão mais bem relacionadas, com mais recursos, mais ativas e mais felizes. Corporações estão mais estruturadas, crescendo, com equipe mais bem qualificada e com mais resultados. Fazendas estão crescendo em produção, geração de empregos e satisfação de seus proprietários.

O sucesso, invariavelmente, tem uma coisa em comum: o trabalho. Mas não é só o trabalho pesado de sol a sol. É o trabalho intelectual, planejado, que pode sim dar errado em alguns momentos, mas que logo em seguida surgem soluções para mitigar percalços naturais.

”Ah, mas o governo, o custo Brasil, o mercado, meu vizinho, a fiscalização, as estradas, a mão de obra, a corrupção...”. Todos obstáculos são comuns a todos. Ficarão no mercado aqueles que entenderam que, antes de tentar mudar o mundo, precisam mudar o seu mundinho. Antes de jogar leite fora no gramado do palácio do planalto precisam entrar em suas fazendas e entender onde estão jogando o resultado do leite fora todos os dias.

Hoje, tive e curiosidade de olhar alguns dados que temos arquivados de exatos cinco anos atrás. Para entendermos melhor, e por questões de proteção de dados, vou expor somente a qualidade média do leite recebido naquela época:

- CBT (Contagem Bacteriana Total): 113

- CCS (Contagem de Células Somáticas): 498

- Proteína média: 3,19

- Gordura média: 3,70

- 1 Certificação BPF (Boas Práticas de Fabricação) com 55% das fazendas aprovadas.   

Aquele era um momento em que mudanças não tinham tanta pressão regulatória. Implantamos uma política naquele ano praticamente oposta a todas as práticas de mercado existentes. Apanhamos muito!

Sofremos com os produtores que negavam o que era proposto e deixavam nossa rede de fornecimento, indo para o laticínio vizinho que usava a “não cobrança” como argumento comercial. Nossos técnicos, por vezes, eram ridicularizados ou até mesmo tratados inadequadamente em fazendas que iam trabalhar. Melhorávamos o leite de fazendas que na primeira curva de valorização saíam da empresa sem sequer avisar. Mas, não desistimos!

O caminho foi nos mostrando quem eram os produtores e as fazendas que aderiam a cultura da qualidade como ganho de resultado e como princípio de vida. Não promovemos uma troca da nossa rede de fornecedores, conseguimos de lá para cá manter a maior parte das fazendas que se propunham a participar de um sistema respeitoso, justo e engrandecedor de parceria.

Quem se motivava pelo imediatismo de mercado, a qualquer preço, logicamente, não ficou conosco. Nosso sistema deu previsibilidade e é competitivo por períodos mais longos, mas busca minimizar flutuações de curto prazo. Essa característica nos afastou dos especuladores.

Criamos uma relação oferta/demanda direcionada. Ao mesmo tempo que o especulador sem cultura de qualidade se afastava de nós, o produtor profissional que tem cultura de qualidade e padrão se aproximou. Sentimos que as ofertas de leite que a Verde Campo estava recebendo já vinham filtradas somente com as características que nós desejávamos. Passou a ofertar leite para a Verde Campo quem tem o nosso perfil, da mesma forma que nós só procuramos quem se encaixa na nossa visão.

Hoje os números ainda não estão como planejamos. Estamos acostumados com melhoria contínua e o trabalho mostrou que dá para fazer. Se os números não são ainda melhores é porque não tomamos a decisão de apenas trocar de fornecedores, mas investimos na melhoria de quem estava fora do padrão mas queria melhorar.

O trabalho foi intenso nesse período: foram mais de 4.500 visitas técnicas, mais de 120 mil interferências de qualidade individuais em vacas (análises de CCS, cultura ou CMT), milhares de animais recebendo genética melhoradora, dentre outras intervenções.

Os números médios de hoje são:       

- CBT (Contagem Bacteriana Total): 8

- CCS (Contagem de Células Somáticas): 260

- Proteína média: 3,29

- Gordura média: 3,71

- 4 Certificações BPS nacionais com 100% das fazendas aprovadas.

- 1 Certificação internacional sendo implantada

Podem falar por aí que a nossa grama é mais verde, que temos vantagens, que nosso produto é mais bem posicionado, mas o fato é que trabalhamos. Nossos técnicos saem todos os dias de casa com um destino certo: alguma fazenda parceira!

Enquanto houver um resultado positivo, uma melhoria, um êxito ele pode sim ser replicado. Copiar coisa boa não é feio, pode ser feito e dá certo. 

Faço um convite a cada um dos amigos que me honrou lendo o texto sobre a nossa experiência. Olhe 5 anos atrás na sua vida e faça uma comparação. Seja qual for o resultado, use de forma crítica e planejada para elaborar ações de melhoria para o próximo período de 5 anos. Os resultados vão te surpreender.

POR SAVIO COSTA SANTIAGO DE BARROS

Fonte: Milkpoint