A vaca ideal para a sua propriedade

A vaca ideal para a sua propriedade

O objetivo de qualquer produtor rural é obter lucro com sua atividade e, no leite, não é diferente. Neste setor, para garantir uma boa renda, a escolha dos animais é fundamental. Na hora de formar o rebanho, porém, é preciso levar em conta mais do que apenas uma raça de alta performance produtiva. A melhor opção varia conforme o perfil do produtor, da propriedade e de suas condições. A produtividade não depende só da “raça” do animal, mas também do sistema de produção e também da região onde a propriedade leiteira se insere.

Esta questão é motivo de amplos debates entre especialistas e produtores. Mas um fato é consenso: não há fórmula pronta, nem raça mais indicada. Na opinião do chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), André Novo, o que interessa para o pecuarista é ter um animal eficiente, com alta capacidade de transformar volumoso em leite, com boas saúde, persistência de lactação e reprodução adequada, adaptado ao seu sistema de produção. “Este tipo de animal pode ser encontrado em várias raças especializadas.

Assim, a escolha de uma ou outra não é tão importante quanto o desempenho individual, que pode variar muito dentro de cada tipo”, reforça André Novo. O pesquisador em Genética e Melhoramento Animal da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora (MG), João Cláudio do Carmo Panetto, endossa a opinião de Novo. “Para os rebanhos leiteiros, o fundamental é que os animais sejam eficientes no processo de transformar os alimentos disponíveis em produção de qualidade, com saúde e bem-estar, de forma sustentável e economicamente compensadora.” Ele faz um alerta, porém: “Quanto maior o nível de produção de leite, também maiores são as exigências nutricionais dos animais. Por isso, é bom lembrar que animais de alta produção precisam de manejo e nutrição também de nível elevado”.

Na avaliação do agrônomo da Cooperativa para Inovação e Desenvolvimento da Atividade Leiteira (Cooperideal), Carlos Eduardo Freitas Carvalho, que atua na região de Goiás, a raça, de fato, não é fundamental para o sucesso de uma propriedade leiteira. Segundo ele, é preciso avaliar, basicamente, três intervalo entre partos, com o objetivo de este ser atingido em 12 meses; persistência de lactação, com animais com mais de 90% de persistência, e produção de leite, ou seja, 5 litros para cada 100 quilos de peso vivo na média da lactação. “É possível encontrar animais com essas características em todas as raças leiteiras, bem como nas cruzas como Girolando e Jersolando. Contudo, nas europeias temos, em estatística, uma maior chance de ter tais características, fato que nos direciona a trabalhar com o objetivo de especializar o rebanho na produção de leite”, explica.

Carvalho acredita que a genética animal, colocada em uma pirâmide, precisa estar no topo e não em sua base. “Itens como fertilidade do solo e manejo das forrageiras, bem como o manejo de rebanho, é que darão sustentação para se ter uma genética que possa expor seu potencial produtivo. Portanto, quando o produtor ainda não possui esses itens fundamentais, não adianta querer trocar seus animais, caso contrário estaria sendo injusto com as vacas que estão na propriedade.”

Professor do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Paraná, o veterinário e doutor em Ciência Animal Rodrigo de Almeida destaca que há um debate intenso sobre a diferença entre produção e produtividade. Ele comenta que essa discussão  leva em conta diversos fatores, como a área para produção de alimento, o valor pago pela aquisição de alimento e demais insumos, se o criador pretende ter renda apenas com a produção de leite ou se quer participar do mercado de venda de reprodutores, além do tempo de vida útil produtiva e o custo de aquisição de animais de reposição, entre muitas outras influências sobre a viabilidade da atividade.

Por esta grande diversidade de fatores, ressalta, há também nichos com ótimos níveis de produção e produtividade em cada uma dessas situações. “É por isso que não é interessante defender apenas um caminho, e sim conhecer todas as alternativas, pois as condições de mercado mudam constantemente e é preciso estar atento e muito bem informado para aumentar as chances de sucesso”, acredita o professor, que também preside o Conselho Brasileiro de Qualidade do Leite (CBQL).

Conforme destaca Almeida, existem defensores de duas principais correntes de pensamento. Em uma primeira linha, diz, estão aqueles que apostam na produção leiteira de larga escala, utilizando animais com altas produções individuais, que são criados principalmente em confinamento, com dietas com elevada participação de alimento concentrado.  Em tais condições, diz, a raça leiteira que tem maior capacidade de responder com altas produções é a Holandesa, desde que não existam limitações em relação à faixa de conforto térmico, pois a produção e a reprodução são prejudicadas em temperaturas acima ou abaixo do conforto. “Sob as condições de clima tropical, com desafios de temperatura e parasitas em regime de pastagens, a produção de qualquer raça fica limitada, entretanto tal prejuízo é ainda mais pronunciado na Holandesa.

Seria como usar um fórmula 1 para correr no rally Paris-Dacar”, exemplifica. Nas condições ambientais mais desafiadoras em relação ao clima, parasitas e nível nutricional, explica Almeida, os criadores têm melhores resultados utilizando raças zebuínas, principalmente a Gir, que tem grande rusticidade e vem há anos passando pelo processo de seleção para produção leiteira. “Entretanto, as zebuínas em geral apresentam limitações em relação à duração e à persistência de lactação. Não se pode atribuir tal desvantagem somente à genética, pois as condições a que são expostas limitam também o seu potencial”, pondera. 

Fonte: Mundo do Leite 80

http://www.portaldbo.com.br/